Hannah arendt biography livro origens do totalitarismo
As Origens do Totalitarismo
As Origens do Totalitarismo (em inglês: The Origins of Totalitarianism; em alemão: Elemente und Ursprünge totaler Herrschaft[1]) é um livro da teórica políticateuto-americanaHannah Arendt que examina as origens históricas e as características políticas comuns dos principais regimes totalitários do século XX - o nazismo e o stalinismo. Seu título original era O Fardo de Nossos Tempos, e chegou a ser publicado como O Fardo de Nosso Tempo (The Burden of Our Time [sic]) na Grã-Bretanha em 1951.[2]
Desde a sua publicação, o livro foi reconhecido como uma das primeiras obras de referência sobre o tema e um clássico da filosofia política. É frequentemente referido como a principal obra de Arendt e continua a ser, até hoje, uma das análises filosóficas definitivas sobre o totalitarismo, ao menos na forma que assumiu durante o século XX.
Arendt dedicou o livro a seu marido, o poeta e filósofo alemão Heinrich Blücher.
Estrutura e conteúdo da obra
[editar | editar código-fonte]Como vários outros livros de Arendt, As Origens do Totalitarismo compõe-se de ensaios - cada um deles correspondendo a uma parte da obra:
Inicialmente, são descritas as várias precondições e a subsequente ascensão do antissemitismo na Europa Central, Oriental e Ocidental, desde início até meados do século XIX. Em seguida, Arendt examina o neoimperialismo, de 1884 até o início da Primeira Guerra Mundial (1914-18), traçando a emergência do racismo como ideologia e a sua moderna aplicação como "arma ideológica do imperialismo", pelos boers durante o Grande Trek (1830-c. 1943). Finalmente, Arendt analisa o totalitarismo como uma "nova forma de governo", que "difere essencialmente de outras formas de opressão política que conhecemos, como despotismo, tirania e ditadura",[3] na medida em que aplica o terror para subjugar grandes massas populacionais e não apenas adversários políticos.[4][5] Segundo Arendt, a perseguição dos judeus teria sido um pretexto para ganhar as massas, ou seja, um interessante recurso de demagogia, como uma espécie de proxy conveniente. Aquele totalitarismo na Alemanha tinha, afinal, a ver com terror e coerência - não com a erradicação dos judeus apenas.[6][5] Um conceito-chave que surgiu do livro foi a aplicação da expressão de Kant "mal radical",[7] que ela aplicou aos homens que criaram e executaram tal tirania e à representação das suas vítimas como "povos supérfluos".[8][9]
Recepção da obra
[editar | editar código-fonte]O jornal francês Le Monde incluiu As Origens do Totalitarismo entre os 100 melhores livros do século XX, enquanto a National Review classificou-o como o 15º de sua lista dos 100 melhores livros de não ficção do século.[10] O Intercollegiate Studies Institute listou a obra entre os 50 melhores livros de não ficção do século.[11]
Norman Podhoretz comparou o prazer da leitura de As Origens do Totalitarismo à satisfação de ler um grande romance ou poema.[12]
O estoque do livro esgotou-se no site da Amazon, em janeiro de 2017, em consequência de um súbito aumento do interesse em obras sobre o totalitarismo na época em que Donald Trump assumiu a presidência dos Estados Unidos.[13]
Mas o livro também atraiu críticas negativas. A mais ampla pode ter sido a do professor Bernard Wasserstein, da Universidade de Chicago, publicada no Times Literary Supplement, em 2009.[14] Segundo Wasserstein, Arendt teria internalizado sistematicamente as várias fontes e livros antissemitas e nazistas que lhe eram familiares, usando muitas delas como autoridades no assunto.[15]
Referências
- ↑O título em alemão, Elemente und Ursprünge totaler Herrschaft, pode ser traduzido como 'Elementos e origens da dominação totalitária'.
- ↑British Library ID BLL01000107370.
- ↑The Origins of Totalitarianism
- ↑— (1953). «Ideology and Terror: A Novel Form of Government». The Review of Politics. 15 (3): 303–327. JSTOR 1405171
- ↑ abSzécsényi, Endre (30 de março de 2005). The Hungarian Revolution in the "Reflections" by Hannah Arendt. Europe or the Globe? Eastern European Trajectories in Times of Integration and Globalization. Viena: IWM * «Hannah Arendt». Contemporary Thinkers. The Foundation for Constitutional Government. 2018
- ↑Riesman, David (1º de abril de 1951). «The Origins of Totalitarianism, by Hannah Arendt». Commentary
- ↑Copjec, Joan, ed. (1996). Radical Evil. [S.l.]: Verso Books. ISBN 978-1-85984-911-8
- ↑Hattem, Cornelis Van; Hattem, Kees van (2005). Superfluous people: a reflection on Hannah Arendt and evil. [S.l.]: University Press of America. ISBN 978-0-7618-3304-8
- ↑Heller, Anne Conover (2015). Hannah Arendt: A Life in Dark Times. [S.l.]: Houghton Mifflin Harcourt. ISBN 978-0-544-45619-8 excerpt
- ↑The 100 Best Non-fiction Books of the Century, National Review.
- ↑Intercollegiate Studies Institute's "50 Best Books of the 20th Century" (Non-fiction)Arquivado em 2006-06-20 no Wayback Machine
- ↑Podhoretz, Norman (1999). Ex-Friends: Falling out with Allen Ginsberg, Lionel and Diana Trilling, Lillian Helman, Hannah Arendt, and Norman Mailer. New York: The Free Press. p. 143. ISBN 0-684-85594-1
- ↑Williams, Zoe (1 de fevereiro de 2017). «Totalitarianism in the age of Trump: lessons from Hannah Arendt». The Guardian (em inglês). ISSN 0261-3077. Consultado em 7 de fevereiro de 2017
- ↑Horowitz, Irving Louis (janeiro de 2010). «Assaulting Arendt». First Things
- ↑Wasserstein, Bernard (outubro de 2009). «Blame the Victim—Hannah Arendt Among the Nazis: the Historian and Her Sources». Times Literary Supplement